Quarta-feira, 22 de Julho de 2009
Domingo, 5 de Julho de 2009
Sábado, 4 de Julho de 2009
"UNICEF is deeply concerned about the condition of thousands of children who have been displaced by conflict, or who remain in affected areas, in north-western Pakistan. Nearly 50 per cent of the estimated 2 million displaced are children, many of whom are in urgent need of health and educational services, nutritional support, access to clean water and sanitation as well as protection. Their situation has been compounded by the harsh summer temperatures. "
http://www.unicef.org/
Quarta-feira, 1 de Julho de 2009
Sábado, 20 de Junho de 2009
Quinta-feira, 18 de Junho de 2009
Ao Albano Martins
"É preciso ler os poetas
na sua língua
com rodelas de tomate
e um fio de azeite
ao correr de cada verso.
É preciso chorar
as lágrimas que eles insistem
em soltar no silêncio
de indecisas madrugadas.
É preciso ouvir
o modo como caminham cantando
contra os muros revestidos
pelo arrepio das barbáries.
É preciso aprender com eles
a arte tranquila de habitar a brisa
em Maio
e dedilhar
o alaúde lunar
por baixo dos aloendros.
É preciso dizer que eles são poetas
perigosíssimos seres de olhos carregados
do mais doce sumo das cerejas.
São poetas e voam
como pombas na sílaba do mel.
São poetas e guardam
com horror a memória de terras
profanadas.
Nascem em Lisboa
Dublin
em Granada ou num gueto
de Varsóvia.
Se alguém te perguntar
ó meu irmão
diz que eles são poetas.
Bebem pétalas caminham
sobre a água das palavras.
São poetas
e venham de onde vierem
nasceram sempre ao teu lado
meu irmão
na raiz
do perfeito coração. "
Quarta-feira, 10 de Junho de 2009
Em 1993, Ken Saro Wiwa juntamente com 300 mil pessoas protestaram pacificamente contra os danos ambientais no Delta causados pelos oleodutos.
Em 1995 foi assassinado pelo regime militar nigeriano, juntamente com outros oito activistas
A multinacional shell não só foi responsável por danos ambientais graves, como colaborou com a ditadura nigeriana na violação dos direitos humanos.
"No me dan pena los burgueses vencidos.
Y cuando pienso que van a dar me pena,
aprieto bien los dientes, y cierro bien los ojos.
Pienso en mis largos días sin zapatos ni rosas,
pienso en mis largos días sin sombrero ni nubes,
pienso en mis largos días sin camisa ni sueños,
pienso en mis largos días con mi piel prohibida,
pienso en mis largos días Y
No pase, por favor, esto es un club.
La nómina está llena.
No hay pieza en el hotel.
El señor ha salido.
Se busca una muchacha.
Fraude en las elecciones.
Gran baile para ciegos.
Cayó el premio mayor en Santa Clara.
Tómbola para huérfanos.
El caballero está en París.
La señora marquesa no recibe.
En fin Y
Que todo lo recuerdo y como todo lo recuerdo,
¿qué carajo me pide usted que haga?
Además, pregúnteles,
estoy seguro de que también
recuerdan ellos."
"Há quem passe pela floresta e só veja lenha para a fogueira."
"Um dia alguém numa grande cidade longínqua dirá que morri
di-lo-á decerto com pena mas sem o alívio que eu próprio decerto senti
primeiro ao solucionar de vez esse problema de respiração que a vida é
desde a convulsão da criança que a meio do copo deixou ir leite para a traqueia
até a instantânea atrapalhação do mergulhador a quem de súbito falta o ar comprimido
só dispõe da reserva e lhe faltava tanto que ver no fundo sonhador do mar
depois senti alívio porque às vezes a meio por exemplo da aragem na face
eu pensava na morte como problema metafísico a resolver pelo menos com higiene
se não com dignidade com acerto como mais um problema à medida do homem
Eu estava do lado dos vivos estou do lado dos mortos
o grande problema era saber se me doía ou se não me doía
agora nem sei se me doeu ou não ou fui um mero espectáculo de mau gosto
para a única pessoa encarregada de me ajudar nesse momento
Ninguém a princípio terá sabido que eu morrera só minha
mulher avisada de longe virá e me porá a mão sobre a testa
os demais não não disponho do olhar para me defender
o tempo depressa se passa são trâmites legais até me terem deixado
debaixo do chão bem debaixo do chão sem frases lidas
ou gravadas sem sentimento nenhum
Uns dias depois um pequeno grupo junto a uma grande janela
olhará a neblina da manhã de janeiro
e terá mãos que eu tive para os meus problemas de vivos
Onde eu estive sobre uma mesa com uma perna cruzada
suaves começarão a suceder-se e acumular-se os dias
como cartas revistas linguísticas ou livros adormecidos
despertos apenas no momento fugaz da leitura
A vida será indistinta virá até nós como árvores
rodará em volta como um lençol até cobrir-nos os ombros
Falareis de mim não posso impedir que faleis de mim
mas já nada disso me pesa como o simples facto de ter de ser vosso amigo
Estou só e só para sempre e só desde sempre
mas antes por direito de opção. Agora não
Deixaram-me aqui doutor em tantas e tão grandes tristezas portuguesas
e durmo o sono das coisas convivo com minerais preparo a minha juventude definitiva
Era como eu esperava mas não posso dizer-vos nada
pois tendes ainda o problema e a cara da pessoa viva"
"Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação."
Domingo, 7 de Junho de 2009
"A um povo ignorante se pode enganar com a superstição e torná-lo servil. Um povo instruído será sempre forte e livre"
Sexta-feira, 5 de Junho de 2009
Terça-feira, 2 de Junho de 2009
"Não pretendo nada,
nem flores, louvores, triunfos.
nada de nada.
Somente um protesto,
uma brecha no muro,
e fazer ecoar,
com voz surda que seja,
e sem outro valor,
o que se esconde no peito,
no fundo da alma
de milhões de sufocados.
Algo por onde possa filtrar o pensamento,
a idéia que puseram no cárcere.
A passagem subiu,
o leite acabou,
a criança morreu,
a carne sumiu,
o IPM prendeu,
o DOPS torturou,
o deputado cedeu,
a linha dura vetou,
a censura proibiu,
o governo entregou,
o desemprego cresceu,
a carestia aumentou,
o Nordeste encolheu,
o país resvalou.
Tudo dó,
tudo dó,
tudo dó...
E em todo o país
repercute o tom
de uma nota só...
de uma nota só... "
"Quando nasci,
pobreza,
me seguiste,
me olhavas
através
das taboas podres
pelo profundo inverno.
De prontidão
eram teus olhos
os que olhavam das brechas.
As goteiras,
da noite, repetiam
teu nome e teu sobrenome
ou as vezes
o salto quebrado, o traje rasgado,
os sapatos furados,
me advertiam.
Ali estavas
espiando-me
teus dentes de traça,
teus olhos de pântano,
tua língua cinza
que corta
a roupa, a madeira
os ossos, o sangue,
ali estavas
buscando-me,
seguindo-me,
desde o meu nascimento
pelas ruas.
Quando aluguei um quarto
pequeno, nos subúrbios,
sentado em um sofá,
me esperavas,
ou no decorrer dos lençóis
em um hotel escuro,
adolescente,
não encontrei a fragrância
da rosa desnuda,
sim o silvo do frio
da tua boca,
Pobreza,
me seguistes
pelos quartéis e hospitais,
pela paz e pela guerra.
Quando adoeci tocaram
à porta:
não era o doutor, entrava
outra vez a pobreza.
Te vi tirar meus móveis
à rua:
os homens
os deixavam cair como pedradas.
Tu, com amor horrível,
de um montão de abandono
no meio da rua e da chuva
ias fazendo
um trono desdentado
e olhando os pobres
recolhias
meu último prato fazendo-o diadema.
Agora,
pobreza,
eu te sigo.
Como fostes implacável,
sou implacável.
Junto
de cada pobre,
me encontrarás cantando,
baixo,
cada lençol
d
e hospital impossível
encontrarás meu canto.
Te sigo,
pobreza,
te vigio,
te cerco,
te disparo,
te exilo,
te corto as unhas,
te quebro
os dentes que te restam.
Estou
em todas as partes:
no oceano com os pescadores
na mina com os homens
ao limpar-se a frente,
tirar-se o suor negro,
encontram
meus poemas.
Eu saio cada dia
com a trabalhadora têxtil.
Tenho a mão branca
de dar pão nas padarias.
Aonde vais,
pobreza,
meu canto
está cantando,
minha vida
está vivendo,
meu sangue
está lutando.
Derrotarei
tuas pálidas bandeiras
aonde se levantam.
Outros poetas
antes te chamaram
santa,
reverenciaram tua capa,
se alimentaram de fumo
e desapareceram,
Eu
te desafio,
com duros versos te golpeio o rosto,
te embarco e te desterro.
Eu com outros,
com outros, muitos outros,
vamos te expulsando
da Terra a Lua
para que ali fiques
fria e encarcerada
vendo com um olho
o pão e os ramos
que cobrirão a terra
de amanhã."
"Eu não acredito em caridade. Eu acredito em solidariedade. Caridade é tão vertical: vai de cima para baixo. Solidariedade é horizontal: respeita a outra pessoa e aprende com o outro. A maioria de nós tem muito o que aprender com as outras pessoas."
Segunda-feira, 1 de Junho de 2009
Sábado, 30 de Maio de 2009
Sexta-feira, 29 de Maio de 2009
"Transfere de ti para mim essa dor
de cabeça, esse desejo, essa violência.
Que careça em ti o meu excesso
e que me falte o que tu tens de sobra.
Que em mim perdure o que te morre cedo
e que te permaneça o que tenho perdido.
Que cresça, se desenvolva um teu sentido
que em mim desapareça.
Dá-me o que de possuir tu não te importas
e eu multiplico o que te falta e em mim existe
para que nosso encaixe forme uma unidade -indivisível-
que não se possa subtrair uma metade."
"Viver é a coisa mais rara do mundo.
A maioria das pessoas apenas existe."
Quinta-feira, 28 de Maio de 2009
"Nunca mais
Caminharás nos caminhos naturais.
Nunca mais te poderás sentir
Invulnerável, real e densa -
Para sempre está perdido
O que mais do que tudo procuraste
A plenitude de cada presença.
E será sempre o mesmo sonho, a mesma ausência."
Quarta-feira, 27 de Maio de 2009
Terça-feira, 26 de Maio de 2009
“Os deveres do poeta foram sempre os mesmos na história. A honra da poesia foi sair à rua. A poesia é uma insurreição. Não se ofende o poeta porque o chamam subversivo. A vida ultrapassa as estruturas e há novos códigos para a alma.”
Segunda-feira, 25 de Maio de 2009
Domingo, 24 de Maio de 2009
Sábado, 23 de Maio de 2009
"Avante, camarada, avante,
Junta a tua à nossa voz!
Avante, camarada, avante, camarada
E o sol brilhará para todos nós!
Ergue da noite, clandestino,
À luz do dia a felicidade,
Que o novo sol vai nascendo
Em nossas vozes vai crescendo
Um novo hino à liberdade
Que o novo sol vai nascendo
Em nossas vozes vai crescendo
Um novo hino à liberdade
Avante, camarada, avante,
Junta a tua à nossa voz!
Avante, camarada, avante, camarada
E o sol brilhará para todos nós!
Cerrem os punhos, companheiros,
Já vai tombando a muralha.
Libertemos sem demora
Os companheiros da masmorra
Heróis supremos da batalha
Libertemos sem demora
Os companheiros da masmorra
Heróis supremos da batalha
Avante, camarada, avante,
Junta a tua à nossa voz!
Avante, camarada, avante, camarada
E o sol brilhará para todos nós!
Para um novo alvorecer
Junta-te a nós, companheira,
Que comigo vais levar
A cada canto, a cada lar
A nossa rubra bandeira
Que comigo vais levar
A cada canto, a cada lar
A nossa rubra bandeira
Avante, camarada, avante,
Junta a tua à nossa voz!
Avante, camarada, avante, camarada
E o sol brilhará para todos nós!"
Sexta-feira, 22 de Maio de 2009
"O poeta tem olhos de água para reflectirem todas as cores do mundo,
e as formas e as proporções exactas, mesmo das coisas que os sábios desconhecem.
Em seu olhar estão as distâncias sem mistério que há entre as estrelas,
e estão as estrelas luzindo na penumbra dos bairros da miséria,
com as silhuetas escuras dos meninos vadios esguedelhados ao vento.
Em seu olhar estão as neves eternas dos Himalaias vencidos
e as rugas maceradas das mães que perderam os filhos na luta entre as pátrias
e o movimento ululante das cidades marítimas onde se falam todas as línguas da terra
e o gesto desolado dos homens que voltam ao lar com as mãos vazias e calejadas
e a luz do deserto incandescente e trémula, e os gestos dos pólos, brancos, brancos,
e a sombra das pálpebras sobre o rosto das noivas que não noivaram
e os tesouros dos oceanos desvendados maravilhando com contos-de-fada à hora da infância
e os trapos negros das mulheres dos pescadores esvoaçando como bandeiras aflitas
e correndo pela costa de mãos jogadas pró mar amaldiçoando a tempestade:
- todas as cores, todas as formas do mundo se agitam e gritam nos olhos do poeta.
Do seu olhar, que é um farol erguido no alto de um promontório,
sai uma estrela voando nas trevas
tocando de esperança o coração dos homens de todas as latitudes.
E os dias claros, inundados de vida, perdem o brilho nos olhos do poeta
que escreve poemas de revolta com tinta de sol na noite de angústia que pesa no mundo. "
Quinta-feira, 21 de Maio de 2009
"Floresce, na orilha da campina,
esguio ipê
de copa metálica e esterlina.
Das mil corolas,
saem vespas,abelhas e besouros,
polvilhados de ouro,
a enxamear no leste,onde vão pousando
nas piritas que piscam nas ladeiras,
e no riso das acácias amarelas.
Dos charcos frios
sobem a caçá-los redes longas,
lentas e rasgadas de neblina.
Nuvens deslizam,despetaladas,
e altas, altas,
garças brancas planam.
Dançam fadas alvas,
cantam almas aladas,
na taça ampla,
na prata lavada,
na jarra clara da manhã..."
"Para onde quer que vá
já lá estive
o que quer que faça
não posso decidir
quem quer que eu ame
é uma parte
por muito que morra
fico com vida"
"Que poderei de mim mais arrancar
P'ra suportar o dom da tua mão,
Anjo rubro do vento e solidão
Que me trouxeste o espaço,o deus e o mar?
No céu, a linha última das casas
É já azul, alada, imensa e leve.
Nenhum gesto, nenhum destino é breve
Porque em todos estão inquietas asas.
Depois ao pôr do sol ardem as casas,
O céu e o fogo passam pela terra,
E a noite negra vem cheia de brasas
Num crescendo sem fim que nos desterra."
Terça-feira, 19 de Maio de 2009
"Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?"
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."
Segunda-feira, 18 de Maio de 2009
"Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça."
"Guarda a manhã
Tudo o mais se pode tresmalhar
Porque tu és o meio da manhã
O ponto mais alto da luz
Em explosão"
Domingo, 17 de Maio de 2009
O projecto de lei aprovado pelo Parlamento e assinado pelo presidente Hamid Karzai, permitiria o estupro por maridos. Pela nova lei , as mulheres xiitas só podem sair de suas casas por "razões legítimas" e precisam de autorização dos maridos para receberem instrução ou para trabalharem. Em caso de divórcio, é quase impossível a mãe ficar com os filhos e herdar a propriedade de seus maridos. Mas ao contrário, é garantido aos homens receber a propriedade de suas mulheres.
Pelo mundo inteiro, organizações de defesa dos direitos humanos e alguns governantes, condenaram a legislação e Hamid Karzai remeteu a legislação para revisão.
Sábado, 16 de Maio de 2009
"Na América Latina, a liberdade de expressão consiste no direito ao resmungo em algum rádio ou em jornais de escassa circulação. Os livros não precisam ser proibidos pela polícia: os preços já os proíbem."
"1.5 milhões de crianças morrem todos os anos por beberem água poluída"
(unicef)
Sexta-feira, 15 de Maio de 2009
Terça-feira, 12 de Maio de 2009
"Dunas atrás da casa
gafanhotos cor de
madeira cardos cor de areia
ao fim da tarde,
barcos na água rósea
onde a cidade, em frente à casa, cai
De madeira caiada a
casa está
sobre a areia, que escurece quando
a maré devagar desce na praia"
Segunda-feira, 11 de Maio de 2009
"havemos de ser outros amanhã
ou daqui a momentos ou já agora
e dificilmente reconheceremos o espaço da alegria
em que noutras horas chegámos a nascer
e então meu amor
(não sei se reparaste mas é a primeira vez
que escrevo meu amor)
teremos nos olhos a cor sem cor
das roupas muito usadas
e guardaremos os despojos das noites
em que tudo sem querer nos magoava
nas gavetas daqueles velhos armários
com cheiro a cânfora e a tempo inútil
onde há muitos anos escondemos
um postal da Torre de Belém em tons de azul
e um bilhete para a matiné das seis no São Jorge
onde um homem (que muitos anos depois
segundo me contaram se suicidou)
tocava orgão nos intervalos em que
nos beijávamos às escondidas
e dessas gavetas rebenta a poeira do tempo
que matámos a frio dentro de nós
com os filhos que perdemos em camas de ninguém
e as pedras que nasceram no lugar das cinzas
e havemos de perguntar (mesmo sabendo que
já não há ninguém para nos responder)
por que foi que nos largaram no mundo
vestidos de tão frágeis certezas
por que nos abandonaram assim
no rebentar de todas as tempestades
sabendo que o futuro que nos prometiam batia
ao ritmo das horas que já tinham sido
destinadas a outros e nunca
voltariam a tempo de nos salvar
mas enquanto vai escorrendo de nós o pó
desses lugares onde ainda há vozes
que não desistiram de perguntar por nós
vamos bebendo a água inicial das nossas línguas
um ao outro devolvendo o pouco
que conseguimos salvar de todos os dilúvios"
Domingo, 10 de Maio de 2009
Sábado, 9 de Maio de 2009
"Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.
Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo."
Sexta-feira, 8 de Maio de 2009
Quinta-feira, 7 de Maio de 2009
Quarta-feira, 6 de Maio de 2009
"Tu, que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno,
Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno,
Afuguentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares,
Um mundo novo espera só um aceno...
Escuta! é a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! são canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!
Ergue-te pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate! " |
Domingo, 3 de Maio de 2009
"Aqui declaro que não tem fronteiras.
Filho da sua pátria e do seu povo,
A mensagem que traz é um grito novo,
Um metro de medir coisas inteiras.
Redonda e quente como um grande abraço
De polo a polo, a sua humanidade,
Tendo raízes e localidade,
É um sonho aberto que fugiu do laço
Vento da primavera que semeia
Nas montanhas, nos campos e na areia
A mesma lúdica semente,
Se parasse de medo no caminho,
Também parava a vela do moinho
Que mói depois o pão de toda a gente. "
Sábado, 2 de Maio de 2009
A veces me siento
como un águila en el aire.
-Pablo Milanés
"Unas veces me siento
como pobre colina
y otras como montaña
de cumbres repetidas.
Unas veces me siento
como un acantilado
y en otras como un cielo
azul pero lejano.
A veces uno es
manantial entre rocas
y otras veces un árbol
con las últimas hojas.
Pero hoy me siento apenas
como laguna insomne
con un embarcadero
ya sin embarcaciones
una laguna verde
inmóvil y paciente
conforme con sus algas
sus musgos y sus peces,
sereno en mi confianza
confiando en que una tarde
te acerques y te mires,
te mires al mirarme."
"Já que estamos nesse clima de recomeçar, com a alma limpa para novas coisas, vou iniciar transcrevendo algo que recebi. Havia pensado em outra crônica, coisa tipo "propostas para um novo milênio", como o fez Ítalo Calvino. Mas às vezes um texto parabólico, elíptico, pode nos dizer mais que outros pretensamente objetivos. Ei-lo:
"A águia é a única ave que chega a viver 70 anos. Mas para isso acontecer, por volta dos 40, ela precisa tomar uma séria e difícil decisão.
Nessa idade, suas unhas estão compridas e flexíveis. Não conseguem mais agarrar as presas das quais se alimenta. Seu bico, alongado e pontiagudo, curva-se. As asas, envelhecidas e pesadas em função da espessura das penas, apontam contra o peito. Voar já é difícil.
Nesse momento crucial de sua vida a águia tem duas alternativas: não fazer nada e morrer, ou enfrentar um dolorido processo de renovação que se estenderá por 150 dias.
A nossa águia decidiu enfrentar o desafio. Ela voa para o alto de uma montanha e recolhe-se em um ninho próximo a um paredão, onde não precisará voar. Aí, ela começa a bater com o bico na rocha até conseguir arrancá-lo. Depois, a águia espera nascer um novo bico, com o qual vai arrancar as velhas unhas. Quando as novas unhas começarem a nascer, ela passa a arrancar as velhas penas. Só após cinco meses ela pode sair para o vôo de renovação e viver mais 30 anos."
Esse texto foi mandado como um cartão de fim de ano pela Rose Saldiva, da Saldiva Propaganda. Tem mais um parágrafo explicitando, comentando essa parábola e o titulo geral é "Renovação".
Achei que você ia gostar de tomar conhecimento disto, sobretudo quando janeiro nos inunda com sua luz.
Este texto vale mais que mil ilustrações.
Sei como é difícil uma nova ou surpreendente idéia para cartão de fim de ano. Mas esse, além de bater fortemente em nosso imaginário, dispara em nós uma série de correlações e desdobramentos.
A: abertura é seca e forte. Não há uma palavra sobrando. Parece as batidas do destino na Quinta Sinfonia de Beethoven. Releiam. "A águia é a única ave que chega a viver 70 anos. Mas para isso acontecer, por volta dos 40, ela precisa tomar uma séria e difícil decisão.” ·
Já li em algum lugar que Jung dizia que, em torno dos 40, alguma coisa subterrânea começa a ocorrer com a gente e os seres humanos sentem que estão no auge de sua força criativa. É quando podem (ou não) entrar em contato com forças profundas de sua personalidade.
Já ouvi de especialistas em administração de empresas que tem uma hora em que elas começam a crescer e seus dirigentes têm que tomar uma decisão — ou fazem com que cresçam de vez assumindo mais pesados desafios ou, então, fecham, porque ficar estagnado é apenas adiar a morte.
Já mencionei em outras crônicas o personagem Jean Barois (de Roger Martin du Gard) que fez um testamento aos 40 anos, quando achava que estava no auge de sua potência intelectual, temendo que na velhice, carcomido e alquebrado, fizesse outro testamento que negasse tudo aquilo em que acreditava quando jovem. Com efeito, envelhecendo, fez realmente outro testamento que desautorizava e desmentia o anterior. É que sua perspectiva na trajetória da vida mudara, como muda a de um viajante ou a do observador de um fenômeno.
O ano está começando.
Mais grave ainda: um século está se iniciando.
Gravíssimo: mais que um ano, mais que um século, um novo milênio está se inaugurando.
Três vezes Sísifo: o ano, o século, o milênio.
Sísifo — aquele que foi condenado a rolar uma pedra montanha acima, sabendo que quando estivesse quase chegando no topo — cataprum!... a pedra despencaria e ele teria que empurrá-la, de novo, lá para o alto.
Pois bem: "A águia é a única ave que chega a viver 70 anos. Mas para isso acontecer, por volta dos 40 anos, ela precisa tomar uma séria e difícil decisão. Nesta idade suas unhas estão compridas. Não conseguem mais agarrar as presas das quais alimenta. Seu bico, alongado e pontiagudo, curva-se. As asas, envelhecidas e pesadas em função da espessura das penas, apontam contra o peito. Voar já é difícil.” ·
Nossa sociedade pensou ter inventado uma maneira de resolver, nos seres humanos, o drama da águia: a cirurgia plástica. Silicone aqui e acolá, repuxar a pele acolá e aqui, pintar e implantar cabelos. Isto feito, a águia sai flanando pelos salões, praias, telas, ruas, escritórios e passarelas.
Mas aquela outra águia prefere uma solução que veio de dentro. Talvez mais dolorosa. Recolher-se a um paredão, destruir o velho e inútil bico, esperar que outro surja e com ele arrancar as penas, num rito de reiniciação de 150 dias.
Então a águia, digamos, acabou de descasar.
(Tem que redimensionar seu corpo e seus desejos, desmontar casa e sentimentos, realocar objetos e sensações, reassumir filhos.)
Então a águia, digamos, acabou de perder o emprego.
(Tem que descobrir outro trajeto diário, outras aptidões, enfrentar a humilhação.)
Então, a águia,digamos, acabou de mudar de país.
(A crise ou o amor levou-a a outras paragens, tem que reaprender a linguagem de tudo e reinventar sua imagem em outro espelho.)
Então, a águia, digamos, acabou de perder alguém querido.
(É como se uma parte do corpo lhe tivessem sido arrancada, sente que não poderá mais voar como antes, que o azul lhe é inútil.)
Então, a águia, digamos, está numa nova situação em que está sendo desafiada a mostrar sua competência.
(Tem medo do fracasso, acha que não terá garras nem asas para voar mais alto.)
Então, a águia, digamos, andou olhando sua pele, sua resistência física, certos achaques de velhice.
Pois bem. Há que jogar fora o bico velho, arrancar as velhas penas, e recomeçar.
Época de metamorfose.
Os estudiosos da metamorfose dizem que não apenas larvas se transformam em borboletas. Para nosso espanto as próprias pedras passam também por silenciosas metamorfoses.
Enfim, parece que estamos condenados à metamorfose. Morrer várias vezes e várias vezes renascer. Até que, enfim, cheguemos à metamorfose final, onde o que era sonho e carne se converte em pó.
Mas que fique sempre no azul o imponderável vôo da águia."
Texto extraído do jornal “O Globo”
" cruzo as mãos
sobre as montanhas
um rio esvai-se
ao fogo do gesto
que inflamo
a lua eleva-se
na tua fonte
enquanto tacteias a pedra
até ser flor"
Sexta-feira, 1 de Maio de 2009
Terça-feira, 28 de Abril de 2009
"¡Oh poesía hermosa, fuerte y dulce,
mi solo mar al fin, que siempre vuelve!
¿Cómo vas a dejarme, cómo un día
pude, ciego, pensar en tu abandono?
Tú eres lo que me queda, lo que tuve,
desde que abrí a la luz, sin comprenderlo.
Fiel en la dicha, fiel en la desgracia,
de tu mano en la paz,
y en el estruendo triste
de la sangre y la guerra, de tu mano.
Yo dormía en las hojas, yo jugaba
por las arenas verdes de los ríos,
subiendo a las veletas de las torres
y a la nevada luna mis trineos.
Y eran tus alas invisibles, era
su soplo grácil quien me conducía.
¿Quién tocó con sus ojos los colores,
quién a las líneas contagió su aire,
y quién, cuando el amor, puso en su flecha
un murmullo de fuentes y palomas?
Luego, el horror, la vida en el espanto,
la juventud ardiendo en sacrificio.
¿Qué sin ti el héroe, qué su pobre muerte
sin el súbito halo de relámpagos
con que tú lo coronas e iluminas?
¡Oh hermana de verdad, oh compañera,
conmigo, desterrada,
conmigo, golpeado y alabado,
conmigo perseguido;
en la vacilación, firme, segura,
en la firmeza, animadora, alegre,
buena en el odio necesario, buena
y hasta feliz en la melancolía!
¿Qué no voy a esperar de ti en lo que me falte
de júbilo o tormento? ¿Qué no voy
a recibir de ti, di, que no sea
sino para salvarme, alzarme, conferirme?
Me matarán quizás y tú serás mi vida,
viviré más que nunca y no serás mi muerte.
Porque por ti yo he sido, yo soy música,
ritmo veloz, cadencia lenta, brisa
de los juncos, vocablo de la mar, estribillo
de las simples cigarras populares.
Porque por ti soy tú y seré por ti sólo
lo que fuiste y serás para siempre en el tiempo."
Segunda-feira, 27 de Abril de 2009
Domingo, 26 de Abril de 2009
"A Ana e o António trabalhavam
na mesma empresa.
Agora foram ambos despedidos.
Lá em casa, o silêncio sentou-se
em todas as cadeiras
em volta da mesa vazia.
«Neo-realismo!» dirão os estetas
para quem ser despedido
é o preço do progresso.
Os estetas, esses, nunca
serão despedidos.
Ou julgam isso, ou julgam isso."
Sábado, 25 de Abril de 2009
Segunda-feira, 20 de Abril de 2009
"Entre partir e ficar hesita o dia,
enamorado de sua transparência.
A tarde circular é uma baía:
em seu quieto vai e vem se move o mundo.
Tudo é visível e tudo é ilusório,
tudo está perto e tudo é intocável.
Os papéis, o livro, o vaso, o lápis
repousam à sombra de seus nomes.
Pulsar do tempo que em minha têmpora repete
a mesma e insistente sílaba de sangue.
A luz faz do muro indiferente
Um espectral teatro de reflexos.
No centro de um olho me descubro;
Não me vê, não me vejo em seu olhar.
Dissipa-se o instante. Sem mover-me,
eu permaneço e parto: sou uma pausa"
"Todos sofremos.
O mesmo ferro oculto
Nos rasga e nos estilhaça a carne exposta
O mesmo sal nos queima os olhos vivos.
Em todos dorme
A humanidade que nos foi imposta.
Onde nos encontramos, divergimos.
É por sermos iguais que nos esquecemos
Que foi do mesmo sangue,
Que foi do mesmo ventre que surgimos."
Sábado, 18 de Abril de 2009
Segunda-feira, 13 de Abril de 2009
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
"Não busques não esperes
Como procurar a nudez do simples?
Os deuses encontram-se no refúgio aberto sombreado
O círculo dilata-se e dilata-nos
O lugar revela-se no esplendor da luz
O mar levanta as suas lâmpadas brancas
Diz de novo a fascinante simplicidade
Diz agora as minúcias
deslumbrantes
arcos na areia insectos frutos
Tanta luz tanta sombra iluminada!"