Sábado, 20 de Junho de 2009
Quinta-feira, 18 de Junho de 2009
Ao Albano Martins
"É preciso ler os poetas
na sua língua
com rodelas de tomate
e um fio de azeite
ao correr de cada verso.
É preciso chorar
as lágrimas que eles insistem
em soltar no silêncio
de indecisas madrugadas.
É preciso ouvir
o modo como caminham cantando
contra os muros revestidos
pelo arrepio das barbáries.
É preciso aprender com eles
a arte tranquila de habitar a brisa
em Maio
e dedilhar
o alaúde lunar
por baixo dos aloendros.
É preciso dizer que eles são poetas
perigosíssimos seres de olhos carregados
do mais doce sumo das cerejas.
São poetas e voam
como pombas na sílaba do mel.
São poetas e guardam
com horror a memória de terras
profanadas.
Nascem em Lisboa
Dublin
em Granada ou num gueto
de Varsóvia.
Se alguém te perguntar
ó meu irmão
diz que eles são poetas.
Bebem pétalas caminham
sobre a água das palavras.
São poetas
e venham de onde vierem
nasceram sempre ao teu lado
meu irmão
na raiz
do perfeito coração. "
Quarta-feira, 10 de Junho de 2009
Em 1993, Ken Saro Wiwa juntamente com 300 mil pessoas protestaram pacificamente contra os danos ambientais no Delta causados pelos oleodutos.
Em 1995 foi assassinado pelo regime militar nigeriano, juntamente com outros oito activistas
A multinacional shell não só foi responsável por danos ambientais graves, como colaborou com a ditadura nigeriana na violação dos direitos humanos.
"No me dan pena los burgueses vencidos.
Y cuando pienso que van a dar me pena,
aprieto bien los dientes, y cierro bien los ojos.
Pienso en mis largos días sin zapatos ni rosas,
pienso en mis largos días sin sombrero ni nubes,
pienso en mis largos días sin camisa ni sueños,
pienso en mis largos días con mi piel prohibida,
pienso en mis largos días Y
No pase, por favor, esto es un club.
La nómina está llena.
No hay pieza en el hotel.
El señor ha salido.
Se busca una muchacha.
Fraude en las elecciones.
Gran baile para ciegos.
Cayó el premio mayor en Santa Clara.
Tómbola para huérfanos.
El caballero está en París.
La señora marquesa no recibe.
En fin Y
Que todo lo recuerdo y como todo lo recuerdo,
¿qué carajo me pide usted que haga?
Además, pregúnteles,
estoy seguro de que también
recuerdan ellos."
"Há quem passe pela floresta e só veja lenha para a fogueira."
"Um dia alguém numa grande cidade longínqua dirá que morri
di-lo-á decerto com pena mas sem o alívio que eu próprio decerto senti
primeiro ao solucionar de vez esse problema de respiração que a vida é
desde a convulsão da criança que a meio do copo deixou ir leite para a traqueia
até a instantânea atrapalhação do mergulhador a quem de súbito falta o ar comprimido
só dispõe da reserva e lhe faltava tanto que ver no fundo sonhador do mar
depois senti alívio porque às vezes a meio por exemplo da aragem na face
eu pensava na morte como problema metafísico a resolver pelo menos com higiene
se não com dignidade com acerto como mais um problema à medida do homem
Eu estava do lado dos vivos estou do lado dos mortos
o grande problema era saber se me doía ou se não me doía
agora nem sei se me doeu ou não ou fui um mero espectáculo de mau gosto
para a única pessoa encarregada de me ajudar nesse momento
Ninguém a princípio terá sabido que eu morrera só minha
mulher avisada de longe virá e me porá a mão sobre a testa
os demais não não disponho do olhar para me defender
o tempo depressa se passa são trâmites legais até me terem deixado
debaixo do chão bem debaixo do chão sem frases lidas
ou gravadas sem sentimento nenhum
Uns dias depois um pequeno grupo junto a uma grande janela
olhará a neblina da manhã de janeiro
e terá mãos que eu tive para os meus problemas de vivos
Onde eu estive sobre uma mesa com uma perna cruzada
suaves começarão a suceder-se e acumular-se os dias
como cartas revistas linguísticas ou livros adormecidos
despertos apenas no momento fugaz da leitura
A vida será indistinta virá até nós como árvores
rodará em volta como um lençol até cobrir-nos os ombros
Falareis de mim não posso impedir que faleis de mim
mas já nada disso me pesa como o simples facto de ter de ser vosso amigo
Estou só e só para sempre e só desde sempre
mas antes por direito de opção. Agora não
Deixaram-me aqui doutor em tantas e tão grandes tristezas portuguesas
e durmo o sono das coisas convivo com minerais preparo a minha juventude definitiva
Era como eu esperava mas não posso dizer-vos nada
pois tendes ainda o problema e a cara da pessoa viva"
"Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação."
Domingo, 7 de Junho de 2009
"A um povo ignorante se pode enganar com a superstição e torná-lo servil. Um povo instruído será sempre forte e livre"
Sexta-feira, 5 de Junho de 2009
Terça-feira, 2 de Junho de 2009
"Não pretendo nada,
nem flores, louvores, triunfos.
nada de nada.
Somente um protesto,
uma brecha no muro,
e fazer ecoar,
com voz surda que seja,
e sem outro valor,
o que se esconde no peito,
no fundo da alma
de milhões de sufocados.
Algo por onde possa filtrar o pensamento,
a idéia que puseram no cárcere.
A passagem subiu,
o leite acabou,
a criança morreu,
a carne sumiu,
o IPM prendeu,
o DOPS torturou,
o deputado cedeu,
a linha dura vetou,
a censura proibiu,
o governo entregou,
o desemprego cresceu,
a carestia aumentou,
o Nordeste encolheu,
o país resvalou.
Tudo dó,
tudo dó,
tudo dó...
E em todo o país
repercute o tom
de uma nota só...
de uma nota só... "
"Quando nasci,
pobreza,
me seguiste,
me olhavas
através
das taboas podres
pelo profundo inverno.
De prontidão
eram teus olhos
os que olhavam das brechas.
As goteiras,
da noite, repetiam
teu nome e teu sobrenome
ou as vezes
o salto quebrado, o traje rasgado,
os sapatos furados,
me advertiam.
Ali estavas
espiando-me
teus dentes de traça,
teus olhos de pântano,
tua língua cinza
que corta
a roupa, a madeira
os ossos, o sangue,
ali estavas
buscando-me,
seguindo-me,
desde o meu nascimento
pelas ruas.
Quando aluguei um quarto
pequeno, nos subúrbios,
sentado em um sofá,
me esperavas,
ou no decorrer dos lençóis
em um hotel escuro,
adolescente,
não encontrei a fragrância
da rosa desnuda,
sim o silvo do frio
da tua boca,
Pobreza,
me seguistes
pelos quartéis e hospitais,
pela paz e pela guerra.
Quando adoeci tocaram
à porta:
não era o doutor, entrava
outra vez a pobreza.
Te vi tirar meus móveis
à rua:
os homens
os deixavam cair como pedradas.
Tu, com amor horrível,
de um montão de abandono
no meio da rua e da chuva
ias fazendo
um trono desdentado
e olhando os pobres
recolhias
meu último prato fazendo-o diadema.
Agora,
pobreza,
eu te sigo.
Como fostes implacável,
sou implacável.
Junto
de cada pobre,
me encontrarás cantando,
baixo,
cada lençol
d
e hospital impossível
encontrarás meu canto.
Te sigo,
pobreza,
te vigio,
te cerco,
te disparo,
te exilo,
te corto as unhas,
te quebro
os dentes que te restam.
Estou
em todas as partes:
no oceano com os pescadores
na mina com os homens
ao limpar-se a frente,
tirar-se o suor negro,
encontram
meus poemas.
Eu saio cada dia
com a trabalhadora têxtil.
Tenho a mão branca
de dar pão nas padarias.
Aonde vais,
pobreza,
meu canto
está cantando,
minha vida
está vivendo,
meu sangue
está lutando.
Derrotarei
tuas pálidas bandeiras
aonde se levantam.
Outros poetas
antes te chamaram
santa,
reverenciaram tua capa,
se alimentaram de fumo
e desapareceram,
Eu
te desafio,
com duros versos te golpeio o rosto,
te embarco e te desterro.
Eu com outros,
com outros, muitos outros,
vamos te expulsando
da Terra a Lua
para que ali fiques
fria e encarcerada
vendo com um olho
o pão e os ramos
que cobrirão a terra
de amanhã."
"Eu não acredito em caridade. Eu acredito em solidariedade. Caridade é tão vertical: vai de cima para baixo. Solidariedade é horizontal: respeita a outra pessoa e aprende com o outro. A maioria de nós tem muito o que aprender com as outras pessoas."
Segunda-feira, 1 de Junho de 2009