" cruzo as mãos
sobre as montanhas
um rio esvai-se
ao fogo do gesto
que inflamo
a lua eleva-se
na tua fonte
enquanto tacteias a pedra
até ser flor"
"Vazaram-se as luas da savana
ossadas pálidas emigraram
dos corpos para o chão
ajoelharam-se os bois
exaustos de carregarem o sol
Escureceram as horas
nomeadas pela fome
extinguiu-se o sangue da terra
esvaiu-se o leite
num coágulo de saudade
Restam troncos
sustendo gemidos
mães oblíquas sonhando migalhas
mendigando crenças
para salvar os filhos já quase terrestres
Quem protege estes meninos
feitos da chuva que não veio?
Que casa lhes havemos de dar?
Amanhã
qunado se entornarem os cântaros do céu
as aves voltarão a roçar a lua
e as cigarras espalharão o seu canto
Mas dos meninos
talhados a golpes de poeira
quantos restarão
para saudar o amanhecer dos frutos?"
"Não é da luz do sol que carecemos. Milenarmente a grande estrela iluminou a terra e, afinal, nós pouco aprendemos a ver. O mundo necessita ser visto sob outra luz: a luz do luar, essa claridade que cai com respeito e delicadeza. Só o luar revela intimidade da nossa morada terrestre. Necessitamos não do nascer do Sol. Carecemos do nascer da Terra."
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